segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Lack.

Me desenhei com a corda no pescoço, o laço ainda frouxo erguido por um lápis, do tórax inflamado e com uma sutura aberta vazam mariposas, das quais pardais vem para se banquetear.
Hoje eu morro um pouco mais, hoje meus pedaços caem pelas ruas, se espalham e são levados pelo vento, entopem bueiros, fazem a chuva empoçar, fazendo com que os carros flutuem um pouco acima do asfalto.
Fragmentos mortos com notícias de um jornal da vintena passada, a quem ninguém mais interessa, se não aos garis que vão limpa-los das vias.
Trabalho cansativo é esse de respirar quando te sobram buracos, espaços e lacunas, o processo de puxar o ar não funciona mais tão bem.
E não sei mais como se amarram os cadarços, como escovar os dentes que sangram na gengiva irritada com a força aplicada na escova, e não sei mais como abotoar a camisa que sempre sobra um botão ou uma casa no final. Não saber de nada é angustiante e ao mesmo tempo libertador.
Agora é esperar que os pardais limpem tudo e façam, desses buracos, ninhos.
Tomara.

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