Me desenhei com a corda no pescoço, o laço ainda frouxo erguido por um lápis, do tórax inflamado e com uma sutura aberta vazam mariposas, das quais pardais vem para se banquetear.
Hoje eu morro um pouco mais, hoje meus pedaços caem pelas ruas, se espalham e são levados pelo vento, entopem bueiros, fazem a chuva empoçar, fazendo com que os carros flutuem um pouco acima do asfalto.
Fragmentos mortos com notícias de um jornal da vintena passada, a quem ninguém mais interessa, se não aos garis que vão limpa-los das vias.
Trabalho cansativo é esse de respirar quando te sobram buracos, espaços e lacunas, o processo de puxar o ar não funciona mais tão bem.
E não sei mais como se amarram os cadarços, como escovar os dentes que sangram na gengiva irritada com a força aplicada na escova, e não sei mais como abotoar a camisa que sempre sobra um botão ou uma casa no final. Não saber de nada é angustiante e ao mesmo tempo libertador.
Agora é esperar que os pardais limpem tudo e façam, desses buracos, ninhos.
Tomara.
Voltar escrever é difícil,porém mais difícil é ficar com um dicionário entalado na garganta.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2015
domingo, 7 de junho de 2015
Quanta música pode haver dentro de si?
Não posso tocar ou cheirar o som
mas posso torce-lo e molda-lo
Ele não ocupa o espaço físico
pode ser pesado como um olhar
leve como o sabor de um verão
E não comprime meu peito
Mas pode pesar no meu coração
E não há medo nas melodias
é onde posso correr meu lápis
pintar uma relação com a vida
e poder reforçar meu traçado
sem deixar marcas profundas
mas eternas como tatuagens
E pude fluir como tinta pelas veias
segunda-feira, 1 de junho de 2015
boicote
Me apartei de mim tão forte que perdi o caminho de volta
Há sempre uma parte que destoa, dissocia
Eu sou dissonante do meu próprio timbre
As poucas cordas que mantém estão ressecadas
O som que produzo agora é aborrecido e baixo
Uma trilha sonora para um enjôo de maré, azedo
Salmoura morna, leite azedo, sofá mofado ao sol
Desaprendi os impulsos mais básicos do ser
Quem sou eu agora, além de grito atado em si
Cores apagadas dos fantasmas de sonhos lindos
O eco do sussurro de quem eu fui além desse dia
Me faço carapaça, imagem torta do miolo mole.
Me apartei de mim tão forte que perdi o caminho de volta
Há sempre uma parte que destoa, dissocia
Eu sou dissonante do meu próprio timbre
As poucas cordas que mantém estão ressecadas
O som que produzo agora é aborrecido e baixo
Uma trilha sonora para um enjôo de maré, azedo
Salmoura morna, leite azedo, sofá mofado ao sol
Desaprendi os impulsos mais básicos do ser
Quem sou eu agora, além de grito atado em si
Cores apagadas dos fantasmas de sonhos lindos
O eco do sussurro de quem eu fui além desse dia
Me faço carapaça, imagem torta do miolo mole.
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